Porto: Património Mundial da UNESCO
A área urbana da
cidade do Porto foi alvo de uma enorme expansão no século XIX, passando a
incluir mais tarde várias áreas periféricas rurais. Neste sentido, o centro
histórico da cidade começou a deteriorar-se, começando a afetar a qualidade de
vida das populações locais.
Estas sucessivas
modificações e adaptações que se verificaram, ao longo deste século, conduziram
a um estado de preocupação constante, à desintegração social e a uma degradação
física das habitações e dos espaços públicos. Apesar desta situação ser
preocupante, manteve-se até aos anos 70 do século XX, obrigando à constante
procura de soluções. Era necessária uma profunda reabilitação da zona antiga da
cidade, para qual era necessário encontrar e definir os modelos de
desenvolvimento a seguir.
Nas décadas de
40 a 60, as conceções urbanísticas, propunham a demolição das áreas mais
degradadas como, por exemplo, a destruição do velho casario defronte da Sé para
alargamento do Terreiro.
Ainda na década
de 60, constitui-se um grupo de trabalho no âmbito da Câmara Municipal do
Porto, com a orientação do Arquiteto Fernando Távora que, adotando uma perspetiva
inovadora em simultâneo de defesa do património e de intervenção social,
encarou a recuperação como um processo a realizar com a participação dos
próprios moradores.
Neste contexto,
resultou em 1996 um relatório elaborado segundo os princípios da Carta de
Veneza, que visava a renovação urbana de uma área específica, designadamente o
Barredo. No entanto, apesar de alguns esforços nada foi concretizado.
Em Setembro de
1974, após algumas tentativas sem sucesso da recuperação do centro urbano, foi
criado o CRUARB, iniciando os trabalhos de reabilitação do espaço.
Em 1982 o CRUARB
ficou sob a tutela da Câmara Municipal do Porto, passando a chamar-se Direção
do Projeto Municipal de Renovação Urbana do Centro Histórico do Porto, em 1985.
Com a finalidade
de promover a recuperação urbana e luta contra a pobreza, foi criada na década
de 90 uma instituição privada de utilidade pública, a Fundação para o Desenvolvimento
do Centro Histórico do Porto (FDCHP) que atuava juntamente com o CRUARB nesta
causa.
Após sucessivas ações
de renovação e valorização do centro do Porto, a Câmara Municipal do Porto e a
renovada CRUARB dirigiram o processo de candidatura formal à UNESCO para que
classificasse o centro histórico do Porto como Património Mundial da
Humanidade.
O processo de candidatura teve início em 1993 e teve um
impulso definitivo em 1996, quando o Comité de Patrimónios Mundiais da UNESCO
aprovou a candidatura da cidade do Porto.
A decisão da
UNESCO foi levada a cabo sob diversas componentes, tais como a qualidade dos
trabalhos de renovação urbana e social, as actividades culturais e desportivas
(inseridas em programas de sucesso nesta zona), e outras características de
valor Mundial.
A área
classificada pela UNESCO Património Cultural da Humanidade inclui a parte da
cidade interior ao traçado da antiga Muralha Fernandina do século XIV, e
algumas áreas subjacentes de características idênticas ou valorizadas por
realizações posteriores – o quarteirão e Passeio das Virtudes, a Torre dos
Clérigos, o conjunto Teatro S. João e Governo Civil, a Ponte Luís I e ainda, na
margem de Gaia, o edifício do Antigo Mosteiro da Serra do Pilar, o que totaliza
49 hectares.
Para além da
área classificada, foi ainda definida uma área de proteção ao Centro Histórico
do Porto, que inclui varias praças, hospital e encostas.
De acordo com a
classificação terá interesse destacar algumas razões que fundamentaram a
proposta de candidatura do Centro Histórico do Porto a Património Cultural da
Humanidade, a salientar a inegável presença de valores arqueológicos
significativos, os aspetos históricos inscritos na evolução urbana e na arquitetura
são também muito valorizados. No que respeita às intervenções urbanas,
espontâneas ou planeadas, de diferentes épocas salientam-se neste caso específico
as vielas tortuosas da Idade Média adaptadas à topografia, ruas rectilíneas e
pracetas da Renascença, vias que vão dar a monumentos barrocos.
Ainda neste
contexto foi também inserido o conjunto de monumentos e edifícios
representativos do românico, gótico, maneirista, barroco neoclássico e alguns
mais recentes de importante valor patrimonial. O valor de arquitetura civil,
sabiamente adaptada às características locais refletindo condições económicas,
sociais e culturais de diferentes épocas, com aspetos tanto tradicionais como
eruditos foram também tidas em conta uma vez constituem um forte contributo de
diferenciação.
Todo este
processo teve em conta uma área de 90 hectares, com um conjunto de cerca de
3000 prédios no Centro Histórico, na maioria construídos de forma contínua,
sendo estes prédios de habitação e comércio e sem grandes intrusões
descaracterizadoras.
Por outro lado,
a presença de mais de 20 000 habitantes formam uma comunidade viva e ativa, com
um grande número de famílias enraizadas, que continuam com o seu habitat
próprio, e aí querem continuar a viver com as suas tradições e valores
culturais, que em muito caracterizam a cidade do Porto.
Os processos de
recuperação e de reabilitação levados a cabo foram determinantes para que o
processo de candidatura em causa fosse aceite, pressupondo projetos de interação
social.
Foi também
relevante o facto que, o sítio urbano de grande valor estético e carácter
cénico do centro Histórico, com uma enorme riqueza panorâmica, resultante da
complexidade do terreno, do modo harmonioso de como as ruas se articulam, a
importância da implantação dos grandes edifícios e monumentos, da relação com o
rio, dos efeitos visuais diversificados consoante a luz e o tempo. Apesar da
variedade das formas e dos materiais, existe uma unidade estética e visual.
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Porto Património Mundical da UNESCO créditos de imagem |
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